O verbete “Livraria Saraiva” foi atualizado no Wikipedia. Lá, o verbo usado para explicar a varejista agora está no passado: “Saraiva foi uma rede brasileira de livrarias, fundada em 13 de dezembro de 1914 por Joaquim Inácio da Fonseca Saraiva, imigrante português de Trás-os-Montes, no centro da cidade de São Paulo”. É que o juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações da capital paulista atendeu ao pedido da própria varejista e decretou a sua falência no último dia 6.

A decisão colocou um ponto final numa história centenária que atravessou quatro gerações, transformou uma pequena livraria criada para atender aos alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em uma gigante, com mais de uma centena de lojas e um calote de R$ 675 milhões.

A falência

O capítulo da falência começou em 2018, com pagamentos irregulares a fornecedores. O pedido de recuperação judicial veio em outubro daquele ano e foi um grande baque para o setor. Tão grande que a Nielsen e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) não publicaram o Painel do Varejo de Livros nos meses de novembro e dezembro de 2018. O Painel era divulgado religiosamente todos os meses desde 2015. Em janeiro de 2019, os responsáveis pelo estudo voltaram a publicar regularmente o relatório que mostra a evolução das vendas de livros nas principais varejistas do país.

Na época, era comum editoras que creditavam a esta única varejista coisa de 40% do seu faturamento mensal. E não poder mais contar com ela era como ficar sem chão.

Com tudo isso, a Saraiva perdeu relevância. Já não representava importância no marketshare das editoras. Mas ficou esse passivo com as editoras que, possivelmente, ficarão a ver navios. É que boa parte das dívidas foram convertidas em ações da empresa.

E agora?

O único imóvel, a megastore do Shopping Ibirapuera, foi entregue em uma negociação com o Banco de Brasil. À Justiça, a varejista declarou que tem bens móveis (máquinas, equipamentos, móveis e utensílios) no valor estimado de R$ 15 milhões e um estoque de 486 mil livros, 108 mil itens de papelaria e 28 mil itens de outras mercadores que fecham um valor de R$ 21 milhões. Além disso tem um valor entre R$ 230 e 260 milhões a receber em processos judiciais. Os bens deverão ir a leilão e os valores todos reunidos para fazer frente às suas dívidas.

Mesmo assim não faria frente a todas as suas dívidas já que o patrimônio líquido da Saraiva estava negativo em R$ 381 milhões, segundo relatório do segundo trimestre de 2023.  Este índice é a diferença entre o valor dos ativos (bens e direitos a receber) e o seu passivo (obrigações com terceiros e sócios).

O pagamento dos credores segue uma lista de prioridade determinada pela lei. Primeiro, recebem os créditos trabalhistas até 150 salários-mínimos; na sequência, os créditos com direito real de garantia e os créditos tributários. Só daí, na quarta posição, é que são pagos os créditos quirografários, onde estão listados boa parte dos fornecedores.