Está acontecendo, ao longo desta semana, a 59ª edição da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha. O evento é o principal no mundo quando se trata da compra e venda de direitos de livros para crianças e jovens leitores.
O Brasil na Feira
A Feira, cancelada em 2020 e virtualizada em 2021, voltou a ser presencial em 2022 e atraiu mais de mil expositores de 85 países, incluindo o Brasil, que mantém um estande coletivo em Bolonha.
As estimativas do Brazilian Publishers, projeto setorial de exportação de conteúdos editoriais brasileiros e organizador do estande coletivo na feira, é que os editores made in Brazil fechem 200 mil dólares em negócios ao longo do evento.
O país tem uma tradição importante na literatura infanto-juvenil e isso se reflete na feira. O Brasil foi o país homenageado em 2013 e tem sido figura constante entre os prêmios de Bolonha.
Neste ano, por exemplo, a Jujuba concorreu como editora do ano na região da Américas Central e do Sul. Perdeu para a El Naranjo, do México. As brasileiras Pallas, Companhia das Letras e a extinta Cosac & Naify concorreram a este mesmo prêmio em anos anteriores.
Ecos da Guerra
Bolonha foi uma das Feiras a se posicionar contra a Rússia no conflito contra a Ucrânia. O Happy Hour Nespe falou disso inclusive.
Elena Pasoli, diretora do evento comentou o assunto: “Naturalmente, nossos corações estão pesados pelo que está acontecendo atualmente no mundo, e é com grande tristeza que devemos aceitar a ausência de editores da Ucrânia e da Rússia”.

O estande coletivo da Ucrânia se tornou uma espécie de manifesto contra a guerra
Os russos foram cortados desta edição pela organização da Feira. Já o estande coletivo da Ucrânia se tornou uma espécie de “manifesto”. Os editores do país, presença constante na feira em anos passados, estão sendo representados por uma série de cartazes contra a guerra e contra a violência.
A Conferência Internacional de Diretores de Feiras do livro se posicionou contra a guerra. Bolonha, a primeira do calendário internacional desde a deflagração do conflito, se tornou um palco para dar voz à posição de outras feiras mundo afora.
Juntas, elas fizeram o compromisso de suspender contatos com qualquer agência ou instituição estatal russa e ainda de convidar autores e ilustradores ucranianos para as suas respectivas programações.
Entre as feiras que assinaram este compromisso estão a Bienal do Livro de São Paulo e a Feira do Livro de Frankfurt.
O tema nos livros
Ao Estadão, que cobre presencialmente a Feira, editores brasileiros apontam que o tema da guerra e também criadores ucranianos aparecem em muitas das ofertas da Feira.
Bolonha inclusive preparou, às pressas, uma exposição com trabalhos de ilustradores ucranianos que receberam o prêmio BolognaRagazzi.

Romana Romanyshyn e Andriy Lesiv, autores de Vijna, Sco Zminyla Rondo (A guerra que transformou Rondo, em tradução livre), um dos destaques da exposição com criadores ucranianos em Bolonha | Divulgação / Site da Editora do Brasil, que publica os autores no país
A mostra inclui ainda dois livros especiais que tratam do tema da guerra. O primeiro deles é Vijna, Sco Zminyla Rondo (A guerra que transformou Rondo, em tradução livre), de Romana Romanyshyn e Andriy Lesiv. O livro, menção honrosa no BolognaRagazzi de 2015, traz uma mensagem de esperança e paz.
O outro é um livro inédito, criado em muito pouco tempo e impresso em circunstâncias bastante excepcionais: um único exemplar ganhou vida para a exposição: The War: The Children Who Will Never Get to Read Books (A guerra: as crianças que nunca vão ler livros, também em tradução livre), de Masha Serdiuk e ilustrado por Tetiana Kaliuzhna. Baseado em relatos verídicos, o livro conta a história de crianças que nunca poderão ler livros porque suas vidas foram tiradas.
Calendário anual de feiras
A Feira de Bolonha é a primeira do calendário anual das principais feiras de negócios do livro no mundo. Mas é importante estar atento a outras que acontecerão nos próximos meses:
Feira do Livro de Londres (05 a 07/04) – É a principal feira de negócios do primeiro semestre. Ao contrário da Feira de Bolonha – especializada na literatura infantil e juvenil – a Feira inglesa abrange todos os segmentos da indústria editorial.
Feira do Livro de Buenos Aires (28/04 a 16/05) – A Feira de Buenos Aires se parece muito com as bienais brasileiras. Nos últimos anos se consolidou como uma importante feira de negócios para editores latino-americanos. Há inclusive uma programação profisional e benefícios para editores estrangeiros interessados em fechar negócios por lá.
Bienal Internacional do Livro de São Paulo (02 a 10/07) – Principal evento do livro no Brasil em 2022.
Feira do Livro de Frankfurt (19 a 23/10) – De longe, a principal e maior feira de negócios do livro no mundo, a Feira do Livro de Frankfurt é uma espécie de “meca” para editores, que peregrinam anualmente para lá em outubro. Além de uma programação específica para profissionais da área, a feira mantém um dos principais centros de compras e vendas de direitos do mundo.
Feira do Livro de Guadalajara (26/11 a 04/12) – A feira mexicana é a mais importante na América Latina. Editores interessados no mundo hispanoablante tem presença obrigatória no evento que recebe muitos bibliotecários e livreiros dos EUA interessados na compra de livros. Além de ser um hub para a compra e a venda de direitos, é também um lugar onde se vendem muitos livros, inclusive em português do Brasil.