Ao longo do tempo, o bibliófilo argentino Alberto Manguel colecionou histórias e experiências – das mais diversas – de todo tipo de leitor. Resolveu, então, reuní-las em um livro. O resultado é Uma história da leitura (Companhia de Bolso, 432 pp, R$ 54,90 / R$ 34,90 o e-book – Trad.: Pedro Maia Soares), considerada uma de suas obras-primas.
O livro traça um amplo painel histórico sobre como se formou o hábito de ler. Estão lá fragmentos de experiências de todo tipo de leitor: o que se encanta com o aprendizado da leitura, o que é compulsivo e lê de bulas de remédio a livrinhos da escola, o que tem prazer de acompanhar a multiplicação dos significados de uma palavra, de descobrir o final da história etc.
Uma destas histórias é a do grão-vizir da Pérsia. Leitor voraz e ciumento, ele carregava sua biblioteca toda vez que viajava, acomodando-a em quatrocentos camelos treinados para andar em ordem alfabética. Em outro exemplo, ele conta a história de uma prostituta de Veneza, que se dizia amante da poesia e tinha sempre à mão algum livrete de Petrarca, Virgílio ou Homero.
Na segunda metade do século XIX, em Cuba, os operários de algumas fábricas de charuto pagavam a um lector, alguém que se sentava junto às bancadas de trabalho e lia alto enquanto eles manuseavam o fumo. Anos mais tarde, a ditadura de Pinochet baniu Dom Quixote, identificando ali apelo à liberdade individual e ataques à autoridade instituída. E por aí vai…
Em 2021, a Companhia das Letras – que já tinha publicado o título em 1997 – publicou uma edição de bolso, com introdução inédita no Brasil.