No ensaio autobiográfico A viagem inútil: Trans/escrita (Fósforo, 72 págs,; R$ 67,90 – Trad.: Silvia Massimini Felix), a escritora argentina Camila Sosa Villada resgata memórias primordiais de sua infância em Córdoba para refletir sobre literatura, escrita, família, pobreza e a relação entre elas.
Num exercício de autoinvestigação franco e poético, a escritora reconhece na criação literária um gesto de resistência e autopreservação. “Eu digo: primeiro a escrita, depois a tristeza. E é uma vitória sobre esse desígnio da minha família que nunca aceitou sua pobreza: primeiro eu soube escrever e depois aprendi a ficar triste”, escreve no livro.
Ao retraçar as origens da própria literatura, a autora de As Malditas (O parque das irmãs magníficas, como foi originalmente publicado no Brasil) descobre nela a presença incontornável de seus pais, que lhe presentearam com os saberes das letras, muito antes de seus caminhos se afastarem: “Meu pai me ensinou a escrever, e minha mãe, a ler. Eles me levaram para a borda de uma floresta e me deixaram ali sozinha, esperando que eu entrasse e me perdesse para sempre.”
