A indústria editorial está à beira de uma transformação sem precedentes, impulsionada pela Inteligência Artificial (IA). Um novo relatório, AI and Audio: How Artificial Intelligence is Redefining the Audiobook Industry, encomendado pela Feira do Livro de Frankfurt e desenvolvido pela Dosdoce.com, mapeia o cenário atual e futuro do áudio na era da IA.
A pesquisa, que identificou mais de 160 ferramentas e serviços de IA no setor de áudio, aponta que a tecnologia está evoluindo de uma curiosidade experimental para um componente indispensável nos fluxos de trabalho, com o potencial de tornar o conteúdo mais acessível para públicos globais.
O estudo destaca uma mudança significativa na mentalidade dos profissionais do setor. Se há um ano a atitude era de “dúvida”, hoje ela evoluiu para um “cautelosamente progressista”, com a maioria das editoras já testando e avaliando diversas ferramentas de IA.
Segundo Javier Celaya, fundador da Dosdoce.com, essas ferramentas “se tornarão uma extensão do trabalho dos profissionais de áudio para melhorar sua produtividade e criatividade, não para substituí-los”.
O relatório destaca o que parece óbvio: o uso das novas tecnologias acelera a produção e reduz custos. O estudo aponta que a IA pode gerar audiobooks completos em dias, em vez de semanas, com uma suposta redução de custos de até 50% em comparação com a produção humana. No entanto, o relatório adverte que essa economia não é imediata, pois existe uma curva de aprendizado e adaptação de processos que pode levar de dois a três anos.
Além disso, o relatório aponta que a IA está derrubando barreiras linguísticas, permitindo que editoras, especialmente em mercados emergentes como América Latina, África e países de língua árabe, criem audiobooks em múltiplos idiomas e sotaques locais sem grandes investimentos.
Os desafios éticos e o futuro do setor
Apesar das oportunidades, o relatório dedica uma seção inteira aos desafios impostos pela IA. Questões como autenticidade da voz, transparência para o consumidor, e a redefinição de direitos autorais e remuneração são centrais. A indústria enfrenta o risco de uma “inundação” de conteúdo de baixa qualidade que poderia minar a confiança do consumidor no formato.
Para mitigar esses riscos, especialistas defendem a criação de padrões claros para rotular obras geradas por IA, dando aos ouvintes o poder de fazer escolhas informadas. Associações de editores no Reino Unido, em colaboração com parceiros internacionais, já desenvolveram diretrizes de rotulagem, sugerindo termos como “voz de IA” para narrações sintéticas e “réplica de voz autorizada” para vozes clonadas de humanos.
O relatório conclui que a colaboração entre humanos e máquinas será o modelo ideal para o futuro. A tese é reforçada por Helena Gustafsson, da Storytel, “a verdadeira força reside na colaboração perfeita: a IA pode aprimorar e otimizar processos, mas os criadores humanos devem fornecer a visão, a inteligência emocional e o julgamento crítico que definem um conteúdo convincente”
E o Brasil?
Embora o relatório indique que os Estados Unidos (40%) e a Europa (38%) lideram o desenvolvimento de ferramentas de IA para áudio, a América Latina já representa 7% das entidades analisadas, demonstrando um crescimento rápido e relevante.
Uma das iniciativas em língua portuguesa destacada no mapa global de ferramentas de IA é o Clube de Autores. A plataforma brasileira foi classificada na categoria de “marketing e publicidade”, sendo reconhecida por ajudar editoras e autores a melhorarem os processos de promoção de conteúdo de áudio para aumentar sua visibilidade e engajamento.
No relatório, Ricardo Almeida, fundador e CEO do Clube de Autores, enfatiza a urgência da adaptação do mercado. “A indústria editorial, hoje, precisa desesperadamente de processos mais eficientes. […] Depende agora apenas dos editores abandonarem seus preconceitos normalmente fortes contra todas as coisas inovadoras e abraçarem uma nova realidade que pode revolucionar seus negócios. Aqueles que o fizerem competentemente prosperarão; aqueles que não o fizerem provavelmente desaparecerão. É simples assim”, afirma Almeida no relatório.
A produção de conteúdo em português e outras línguas “sub-representadas” é vista como crucial para o crescimento sustentável do mercado global de audiobooks, que deve atingir US$ 35 bilhões até 2030. O relatório aponta que o crescimento depende do aumento da disponibilidade de conteúdo em idiomas como português, espanhol, francês e árabe.
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